Primeiro dia dos Encontros Universitários 2020 é marcado por sessões temáticas, palestras e rodas de conversa; veja destaques

A tarde do primeiro dia dos Encontros Universitários (EU) 2020 foi marcada por palestras, oficinas, lives e rodas de conversa. Outro destaque desta quarta-feira (10) foram as sessões temáticas, com apresentações de trabalhos acadêmicos divididos por áreas em comum. O evento segue até sexta-feira (12), em formato totalmente virtual, com uma programação que inclui apresentações de trabalhos e mais de 90 atividades. Ao todo 5.396 trabalhos serão apresentados, nos formatos pôster, apresentação oral e sessões temáticas.

Foram apresentadas, em 11 salas virtuais simultâneas, 69 produções científicas nas seguintes temáticas: Cultura, Arte e Formação Universitária; Ciências e Biotecnologia; Educação e Inovações Tecnológicas; Internacionalização; Políticas Públicas e Direitos Humanos; Saúde e Bem-Estar; Sociedade e Economia Criativa; Sustentabilidade, Energias Renováveis e Economia do Mar; e Tecnologia da Informação, Comunicação e Linguagens.

pandemia da covid-19 ganhou destaque em diversos trabalhos nesta quarta-feira (10). Na sala dedicada às discussões sobre Saúde e Bem-Estar, o assunto foi tema de quase todas as produções. Um desses trabalhos foi sobre a “Percepção dos profissionais de saúde da linha de frente sobre a influência da pandemia de covid-19 em sua saúde mental”. Apresentada pelo estudante Francisco Daniel Albuquerque, do 4º semestre do Curso de Medicina, a pesquisa tomou como base um questionário realizado com médicos, enfermeiros e assistentes sociais que atuaram na linha de frente de combate à covid-19 em hospitais cearenses.

Imagem: print de dela de trabalho acadêmico
Destaque da quarta-feira (10) foram as sessões temáticas, com apresentações de trabalhos acadêmicos divididos por áreas em comum (Imagem: Reprodução da Internet)

O estudante relatou que, além do aumento da carga de trabalho, esses profissionais tiveram que lidar, dentre outros fatores, com o medo de se infectar e de transmitir a doença aos familiares, o desconhecimento inicial da doença e o excesso de informações. “A abordagem midiática excessiva foi um dos fatores para gerar ansiedade e depressão”, comentou.

Outro ponto que chamou a atenção de Francisco Daniel e demais integrantes do grupo foi o processo de luto vivenciado por esses profissionais. “O processo de morte e luto foi especialmente difícil para todo mundo, mas, principalmente, para os profissionais da saúde. Eles não só viam os pacientes indo a óbito como também tiveram pessoas da família morrendo”, destacou.

Como formas de autocuidado, os profissionais apontaram o apoio da família e de entes queridos (muitas vezes proporcionado apenas de forma virtual), a espiritualidade e a religião, a assistência profissional e outras estratégias ligadas a atividades de lazer, tais como assistir a vídeos, ouvir música, cozinhar e praticar atividades físicas. “A gente sabe que, pelo menos aqui no Ceará, essa segunda onda está pior do que a primeira. É preciso que as pessoas tenham calma, que o tempo é soberano. Essa pandemia vai passar, essas circunstâncias difíceis vão passar e as pessoas vão poder sorrir novamente”, finalizou.

O incentivo à iniciação acadêmica também foi tema de pesquisa nas sessões temáticas. No espaço “Políticas Públicas e Direitos Humanos”, a servidora técnico-administrativa Waltenusia Maia Ferreira expôs sobre “Trajetória acadêmica de bolsistas do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) da UFC”.

Parte de seu mestrado em Políticas Públicas e Gestão da Educação Superior, a pesquisa apresenta dados relativos aos anos de 2010, 2011 e 2012, mostrando a importância da iniciação científica para os alunos da graduação e para a continuidade dos estudos acadêmicos. A partir de uma amostra de 598 bolsistas, ela percebeu que 71,7% atualizaram o currículo Lattes nos últimos três anos, “o que sinaliza um interesse na continuidade da carreira acadêmica”, considerou.

A pesquisa aponta ainda que, do total de bolsistas analisados, 45,15% concluíram a graduação e, destes, 44,81% ingressaram no mestrado. “A gente pode ver quase metade desses alunos [que se graduaram] se dirigindo ao mestrado. Pode-se dizer que o PIBIC cumpre bem seu papel de iniciação acadêmica”, destacou, observando que a maioria continua os estudos de mestrado na própria UFC. “Como propostas futuras, a gente pensa em conhecer os dados relativos a todos os alunos da graduação”, revelou.

Na sessão de Sustentabilidade, Energias Renováveis e Economia do Mar, Beatriz Diniz Lopes, pesquisadora e graduanda em Ciências Ambientais pela UFC, apresentou o trabalho “A necessidade de Planos Regionais de Contingência: o caso do derramamento de óleo na costa brasileira (2019/2020)”, orientado pelo Prof. Marcelo Soares.

A pesquisa de Beatriz tem por objetivo pontuar estratégias para o desenvolvimento de medidas mais eficazes no contingenciamento das ações contra os riscos costeiros. O trabalho se volta ao grave desastre ambiental registrado no Brasil, em setembro de 2019, quando aproximadamente 5,5 mil toneladas de petróleo foram derramadas a cerca de 700 quilômetros da costa brasileira, atingindo mais de 990 praias, principalmente do Nordeste. No Ceará, 48 localidades litorâneas foram afetadas pelo óleo alastrado.

“Aqui abordo a falta de comunicação entre o governo federal e os estados nestes casos de derramamento de óleo, assim como a ação judicial do Ministério Público Federal dos estados do Nordeste. Coloco em vista que o Brasil é um país bastante vulnerável para esses acidentes. Por isso a metodologia do trabalho elenca três estratégias: mapear os riscos de derramamentos no litoral do Ceará, mapear ambientes costeiros do Ceará que poderiam ser afetados, e estabelecer governança no Estado do Ceará com a função de órgãos distintos”, explicou ao longo da apresentação virtual. 

Dentro da temática de Tecnologias da Informação, Comunicação e Linguagens, a psicóloga e graduanda do Curso de Filosofia da UFC Lays Mendes Silva apresentou o trabalho “Psicoterapia on-line na era digital: um estudo de caso do aplicativo FalaFreud”, com coautoria de Rochelly Rodrigues Holanda, Natacha Oliveira Júlio e Brenda Lohanna F. Sousa, sob orientação da Profª. Deborah Christina Antunes.

A pesquisa da bolsista de Iniciação Científica do CNPq busca compreender como a Psicologia foi inserida no meio digital, além de propor a organização do histórico do surgimento de aplicativos de atendimento on-line, analisando seu modo de funcionamento, os discursos contidos nos dispositivos e a relação entre os aplicativos e os modos de vida na sociedade.

“Nós realizamos uma imersão, fizemos sessões e anotações desse percurso a partir de nossas impressões, análises do entendimento ético-político nesses ambientes, tabelas com os dados dos profissionais, dados do CRP [Conselho Regional de Psicologia], além do levantamento de avaliações dos usuários da plataforma na Playstore [loja virtual de aplicativos em smartphones Android]”, detalha. O trabalho partiu do projeto “Tecnologia digital e subjetividade: um estudo sobre aplicativos de atendimento psicológico on-line”, vinculado à Rede Nexos – Teoria Crítica e Pesquisa Interdisciplinar (Nordeste), com financiamento e apoio da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FUNCAP) e do CNPq.

Imagem: print de dela de trabalho acadêmico
Destaque da quarta-feira (10) foram as sessões temáticas, com apresentações de trabalhos acadêmicos divididos por áreas em comum (Imagem: Reprodução da Internet)

Coordenadora de uma das salas dedicadas ao eixo Ciências e Biotecnologia, a Profª Vânia Melo ficou encantada com as produções e organização do evento. “Eu fiquei muito satisfeita com nosso encontro, foi tudo muito perfeito”, comentou, destacando que dividiu os trabalhos do eixo com a Profª Roberta Jeane Bezerra, que coordenou a outra sala dedicada à temática.

Ela ressaltou ainda a qualidade das produções: “Tivemos trabalhos de diferentes assuntos, trabalhos de alto nível. Isso tudo em uma pandemia, a gente fica até emocionada. Uma dificuldade tão grande de fazer ciência em nosso País, com a pandemia, e esses jovens de graduação e de pós-graduação nos mostram esses trabalhos. É um aprendizado”.

PALESTRAS ‒ A programação vespertina do primeiro dia dos Encontros Universitários 2020 contou também com a palestra “Servidor pesquisador: saúde mental e trabalho”, promovida pela Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas (PROGEP). Integraram os debates o professor do Departamento de Física da UFC e membro da Academia Brasileira de Ciências Antônio Gomes, e as servidoras técnico-administrativas Richelly Medeiros, integrante da Comissão de Direitos Humanos da UFC, e Teresa Cristina Lima, doutoranda em Gestão de Empresas pela Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra.

Abordando as particularidades do fazer científico em tempos de pandemia, o Prof. Gomes trouxe em sua fala o papel essencial das universidades no combate à covid-19 no Brasil, nas atividades de diagnóstico, assistência médica e no desenvolvimento de vacinas. Apresentou ainda dados que mostram o País na 11ª posição de produção de conhecimento sobre o vírus, apesar de todos os impactos econômicos e sociais. Propôs também uma reflexão: “A pandemia mostrou que não somos uma espécie tão poderosa. Somos frágeis e facilmente dominados por uma partícula nanométrica”, destacou.

Para manter a saúde mental neste momento, o docente avaliou não haver uma regra, sendo necessário que o servidor-pesquisador encontre sua própria estratégia, mas enfatizou a importância da adequação de ritmo das atividades à circunstância atual. “É um tempo em que a gente faz o que é possível. Não dá para se cobrar tanto e fazer todas as coisas na mesma velocidade de antes, e isso é importante para a nossa saúde mental. O importante é que a gente se mantenha vivo”, declarou.

A técnico-administrativa e doutoranda Teresa Cristina Lima ressaltou em sua fala como conciliar as particularidades das atividades de pesquisa e administrativas. “Isso requer um pouco de aceitação da nossa condição humana e sua complexidade, como no homo complexus de Edgar Morin”, ilustrou. A pesquisadora defendeu a importância de uma aproximação com o objeto de estudos e da conexão com a sociedade dos trabalhos desenvolvidos na academia. 

Richelly Medeiros contemplou sua apresentação com os aspectos relacionados à saúde mental dos trabalhadores no País. Segundo a servidora, a pandemia promoveu um acréscimo de 80% nos casos de estresse e ansiedade nesse público e dobrou os casos de depressão. Contudo, fez a ressalva de que os números relacionados a essas enfermidades no mundo laboral antes da covid-19 não eram os melhores. “As questões de saúde mental são um problema endêmico no Brasil e no mundo. Mesmo antes da pandemia o adoecimento psiquiátrico já era uma das maiores causas de afastamento do trabalho na UFC, ao lado de câncer e doenças ósseo-musculares”, observou.

As repercussões no ambiente de trabalho e produtividade foram ainda tópicos da fala de Richelly, que classificou como uma tendência em gestão o comprometimento com a saúde do trabalhador. “As questões ambientais e o assédio são dinâmicas que repercutem na saúde mental do trabalhador e as instituições precisam entender que o adoecimento mental é danoso para elas também, resultando em uma baixa capacidade criativa”, alertou.

CULTURA E ARTE ‒ A tarde dos EU 2020 contou ainda com uma diversa programação de extensão e cultura. Como parte do VII Encontro de Cultura Artística e VI Mostra ICA foram realizadas duas rodas de conversa ‒ com os temas poesia e audiovisual ‒ exibição de vídeos e, ainda, a apresentação musical “Um São João em meio à pandemia”, com Kennedy Rocha e Isabelle Xavier. Na mostra de Extensão, uma live sobre o papel da forragicultura na segurança alimentar global, uma oficina de aquarela com base na obra de Aldemir Martins e a discussão sobre o Ensino da Escrita Acadêmica em tempos de pandemia estiveram entres as atividades.

Imagem: Print de tela da apresentação musical
Apresentação musical “Um São João em meio à pandemia”, com Kennedy Rocha e Isabelle Xavier (Imagem: Reprodução da Internet)

INOVAÇÃO ‒ Seguindo a programação, a Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (PRPPG) da UFC realizou a live “Inovação e transferência de tecnologia: como a propriedade intelectual pode ser ferramenta estratégica na conexão universidade-empresa”. A transmissão se deu por meio da plataforma Google Meet e teve como facilitadores os servidores da Coordenadoria de Inovação Tecnológica (UFC Inova).

A proposta da live era apresentar alguns conceitos relacionados aos processos de patentes de invenção e aos fluxos administrativos para viabilizar esses depósitos pela UFC no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI). De acordo com a diretora da Divisão de Apoio à Propriedade Intelectual, Lívia Lima, nos últimos anos tem havido um estímulo para a área de patentes e inovação tecnológica. O tempo médio de concessão de uma carta-patente pelo INPI caiu de 10 para 5 anos, e a proposta é que diminua ainda mais, para entre 2 e 4 anos.

“A proteção patentária está em tudo à nossa volta, desde um copo a um mouse, é uma patente a partir do momento em que é criado. Um site ou um e-commerce provavelmente já foi registrado como propriedade intelectual. A partir do patenteamento, o mundo inteiro consegue mapear e ver as tendências de mercado”, explicou Lívia Lima.

Imagem: Print de tela da palestra
Palestra “Inovação e Transferência de Tecnologia: Como a Propriedade Intelectual pode ser ferramenta estratégica na conexão Universidade-Empresa (Imagem: Reprodução da Internet)

Para a titular da Coordenadoria de Inovação Tecnológica, Ana Carolina Matos, um dos principais meios de interação entre a universidade e o setor produtivo se dá no campo da transferência tecnológica. Nesse âmbito, a pesquisa qualificada pode “baixar os muros da universidade, gerar empreendedorismo, receitas e impactar a sociedade, a região e o País”. Como recentes cases de sucesso de patentes e licenciamento de tecnologias da UFC, a coordenadora citou o molho à base de beterraba, abóbora e acerola (Natchup), as aplicações médicas da pele de tilápia e o capacete de respiração assistida Elmo, parceria da UFC com um conjunto de instituições.

“O escopo da UFC é gerar conhecimento através do ensino, da pesquisa e da extensão. Através do projeto de pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I), uma empresa pode se aproximar da Universidade. As parcerias acontecem e são duradouras, fazendo com que haja um ganho para as empresas com conhecimento científico, de know-how, de solução de problemas. Nossos alunos voltam capacitados para o mercado de trabalho e os cursos de pós-graduação aumentam suas notas, com artigos científicos qualificados”, ponderou a coordenadora.

Fonte: Comissão Executiva dos Encontros Universitários 2020 ‒ e-mail: encontrosuniversitarios2020@ufc.br